terça-feira, 10 de dezembro de 2013






Estes poeminhas foram extraídos do livro acima, disponível para aquisição em  http://www.agbook.com.br/book/139929--POEMAS



SURPRESA

já é noite lá fora:
estudando, nem notei
o dia ir-se embora


FILME NA TV

vi um rosto
que me lembrou outro rosto,
conhecido

mas não é que era aquele mesmo rosto,
envelhecido?!


OPÇÃO

enquanto eles estão correndo
para chegar em primeiro
prefiro ficar aqui
no meu mosteiro


MEU PROJETO

nesta viagem, meu projeto
não é chegar ao destino
mas desfrutar do trajeto

  
FÉRIAS

fiz uma opção na vida
pelas coisas que não são sérias:
doravante só viverei
como se estivesse em férias


O MOTIM

quero apenas a rotina
mas a vida
se amotina


RESOLUÇÃO

subirei nos meus próprios ombros
para transpor o medo

e começarei uma nova vida
amanhã bem cedo


O MISTÉRIO DO MUNDO

a ciência ainda não sabe
(com a religião não me iludo),
mas certamente existe
explicação para tudo


UM  OUTRO MODO DE SER

danço conforme a música
(da vida)
quando for desenganado
me tornarei suicida


MINHAS COORDENADAS

só há pouco tomei consciência
de que pertenço à confluência
dos rios Ivo e Belém

por isso, da minha aldeia,
digo a vocês, globalizados:
“better late than never!”
e estamos conversados


NO SEBO 
           
            Para o Rodrigo

no sebo da praça
a traça
enquanto se nutria da Divina Comédia
foi esmagada
coitada!
por um volume da Enciclopédia

(e o cliente habitual
começou a passar mal)                



ALGAZARRA

a gurizada de noite
faz algazarra no centro
para abafar o barulho
que vem de dentro


CENA URBANA

em vez de estarem
jogando bola,
eles passaram
cheirando cola


O CARRINHEIRO, DURANTE A COPA DO MUNDO

ele pôs em seu carrinho
a bandeira do Brasil;
continua amando, o coitado,
a pátria-mãe que o traiu


INFÂNCIA

as crianças
ao voltarem da viagem com os pais
buscam
ansiosas
os seus brinquedos usuais

e ficam na sala
entretidas
a viver suas outras vidas


INFÂNCIA EM CURITIBA

o Ale contemplou
as crianças no calçadão
pintando
como ele outrora

e pela primeira vez doeu nele
a infância ter ido embora 


FOTOGRAFIA

o mesmo brilho
no olhar do filho
torna o pai
ainda vivo
hoje em dia


ESTETICISMO

as mazelas sociais
não quer vê-las

prefere a isso
contemplar as estrelas


SÍLVIO E BELA

Sílvio
dizia Bela
(era assim que ele a chamava)
como tu ficas garboso,
fardado,  fumando esse cigarro”:

muito tempo depois, na pia,
seu sangue tingia o escarro
e prenunciava o desfecho
que de qualquer forma viria


GUARATUBA
  
sob o sol do meio-dia
belo dia!
o casal elegante
ambos de preto, como sempre
(contraste ao branco de seus cabelos)
recém-chegados na Rodoviária,
de braço dado,
se aproximavam

o garçom ocioso do restaurante ao lado
à espera de clientes
fez um sinal para nós—
crianças sentadas na soleira da porta de
                      casa, tagarelando—
para que víssemos quem chegava

e de imediato corremos, contentes, ao    
                                       encontro deles,     
            para abraçá-los e beijá-los                       


                                               
CONTA CORRENTE


nascer implica na abertura de um crédito

nessa conta corrente
o saldo decresce
constantemente

nela não há depósitos
só saques 

  

DA TEIA E DA ARANHA


enquanto a aranha
tece a teia
na ampulheta
escorre
a areia
a arei
a are
a ar
a a
a
.



NA RODOVIA

a vida está passando todo o dia
como passam as árvores do bosque
quando se viaja
pela rodovia

(cada árvore é um dia)


CONFIDÊNCIA
  
abraçada ao seu pescoço
lhe disse algo a Consciência

e isso despertou nele
um sentimento de urgência...


CONFRATERNIZAÇÃO

estamos todos no mesmo barco
prestes a soçobrar

vamos nos abraçar!



ELA É INEVITÁVEL

aceitar o inevitável
revela sabedoria

não há como impedir
que a noite suceda ao dia


O HOMEM E O MAR

um homem contempla o mar
na crise da meia-idade

enquanto um navio vai a pique
e o céu se torna sombrio
conformado
sem um grito
ele contempla o infinito


O BARCO EM  RISCO


aquele barco à deriva—
barco sem tripulação,
do qual tiraram as velas
o mastro e o timão—

é atraído sem o saber
para uma ilha deserta
onde a Torre de Marfim
mantém sempre a porta aberta


A ARTE & A VIDA

há um reino escondido
por trás desta realidade

tudo ali é protegido
contra o mal e a falsidade

ali não sou agredido
não há dor nem frustração

ali também reina a vida
não só sua imitação

nos momentos mais difíceis
eu ali me refugio
e na bela imagem deles
me transformo em ave e rio


BEM- TE- VI

bom te ouvir
bem-te-vi

bom te ver
bem-te-vi

bem te ouço
bem te vejo
bem-te-vi
benfazejo


PARA OS MEUS NETINHOS
  
                                   1

PARA O JUNINHO            
                       
                        reparei que o passarinho
                        foi beijar a flor banal
                        --“oops, me enganei”, disse ele,
                        “esta flor é artificial!”


                                   2

                        FALA  O  ALE JR.

                        “Nasci nove dias antes
                        da vinda da primavera.
                        Mas minha prima se chama
                        Gabriela, e não Vera!”
   
                                    3
                                              
                        GABRIELA NO BERÇO (7 MESES)

                        Gabriela, ao ver os avós,
                        agita pernas e braços.
                        Por isso, eles não resistem
                        a dar nela uns amassos!


                                   4

                        A RISADA DELA

                        quando Gabriela ri
                        mostrando os seus dentinhos
                        a vida é um mar de rosas
                        (desprovidas de espinhos)
                        onde navega um barco
                        carregado de carinhos


terça-feira, 4 de junho de 2013



VIAGEM À ITÁLIA


A catedral de Milão


            De 20 a 28 de maio, neste ano da graça de 2013, participamos, eu e minha consorte (com sorte!), de uma excursão turística pela terra dos grandes artistas e mafiosos.

            A primeira urbe visitada foi Milão, capital da Lombardia, com cerca de 1,3 milhão de almas, na região setentrional do país (é assim menor que Curitiba, com 1,8 milhão. Mas não devemos menosprezar as cidades menores...). Como se sabe, trata-se de um centro industrial importante que se destaca também pelo design e pela moda (pensei que só ia encontrar gente elegante ali, mas não foi o que aconteceu). Em termos turísticos, sua atração principal é a imponente e belíssima Catedral gótica, com uma infinidade de pequenas torres, esculturas e detalhes. Se não fôssemos uns turistas apressados e utilitaristas, ficaríamos horas observando tudo o que ela mostra externamente. Aliás, é muito mais bonita por fora do que por dentro. Ao seu lado, está a Galeria Vittorio Emanuelle II, um prédio do século XIX, que abriga diversas lojas de griffe (Prada, Louis Vuitton etc), restaurantes e livraria (todas as vitrines dela mostravam então o último livro do autor de “O Código Da Vinci”, Dan Brown, intitulado “Inferno”, que ainda não tinha sido lançado aqui. Uma dica: quem quiser entender melhor o contexto desse livro, que será seguramente mais um “best seller”, deve ler antes o meu trabalho “Sobre a Divina Comédia-Inferno”, que pode ser encomendado no site  http://www.agbook.com.br/authors/67231 Gostaram da estratégia mercadológica?). No mosaico do piso da Galeria, deparei de repente com a imagem de Rômulo e Remo -- os fundadores míticos de Roma -- mamando nas tetas da loba (no Brasil, são os empresários que mamam nas tetas do governo). Alguns passos dali notei outra imagem, a de um touro, à qual está associado um costume curioso: para atrair a boa sorte, as pessoas apoiam o salto do sapato nos testículos do animal e dão um giro de 360º em cima deles. Por causa do desgaste natural dessa parte do corpo, o coitado do touro já se apresenta meio castrado...

            Dentro os pontos turísticos obrigatórios da cidade, incluem-se ainda o famosíssimo Teatro Scala, o castelo Sforzesco e a “Última Ceia” de Leonardo da Vinci.

            Era no Scala de Milão que Verdi apresentava as suas óperas e foi ali que o nosso Carlos Gomes estreou “O Guarani”, que todo o mundo só conhece pelo prefixo da “Voz do Brasil”, o que é uma injustiça para com o maestro brasileiro. Mas o prédio do Scala não faz justiça ao seu renome...  

            Quanto ao castelo, era o palácio da família Sforza, que detinha o poder político da cidade. Leonardo da Vinci, protegido da família, aí morou por 17 anos. Aliás, Milão homenageou o grande gênio homossexual (orgulho justificado do movimento gay) com um belo monumento, uma estátua dele de corpo inteiro, rodeado pelos discípulos, mais abaixo. Dentro do castelo, estivemos no Museu de Arte Antiga, que em seu acervo possui uma outra “Pietà” de Michelangelo, a Rondanini, diferente daquela, mais conhecida, que está no Vaticano. Havia tantas obras antigas ali, num ambiente amplo e meio escuro, que quando senti uma coceira na perna disse a minha mulher que eu devia ter sido picado por um pernilongo ...do século III !

            Infelizmente não pudemos ver a “Última Ceia” de Leonardo, no refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie. Era preciso ter feito a reserva com muita antecedência... Mas quem queria ver aquele afresco velho e desbotado?... Também os italianos não deram muita importância a ele no passado, senão não teriam aberto uma porta embaixo do referido...




            Vale a pena registrar ainda, o que é de interesse para nós, brasílicos,  que numa  praça central de Milão há uma placa sobre a relva em homenagem a Chico Mendes, com uns dizeres elogiosos a ele, pela sua defesa dos povos da floresta amazônica. 
  
            De Milão seguimos de ônibus para a região do Vêneto, fazendo uma parada em Verona, a cidade onde se passa a tragédia “Romeu e Julieta” de Shakespeare. O bardo aliás não conheceu a cidade. Baseou sua peça em outros autores, que por sua vez se basearam em cronistas do século XIV. Eles se referiram à rivalidade entre duas famílias da região. Romeu pertencia a uma das famílias e Julieta, à outra (essa luta entre famílias devia ser uma coisa comum na época, também em outras cidades, como se infere pelas notas explicativas à “Divina Comédia”, que foi escrita no começo dos 1300). Em Verona há uma “casa de Julieta” visitada pelos turistas (a casa é antiga mas o balcão, onde a moça recebia as declarações do jovem enamorado, e de onde jogava as suas tranças, é de 1930, quer dizer, foi feita mais recentemente para corresponder ao mito literário).  Do lado de fora, há uma estátua de Julieta, de bronze, cujos seios já estão desgastados (dourados, na realidade), de tanto os turistas passarem a mão neles, ao posarem para fotografias (turista é chegado em passar a mão em certos monumentos. Em Florença, vimos algo semelhante com relação a um javali de bronze cuja ponta do focinho também já estava meio dourada de tanto os visitantes passarem a mão ali...).

            Caminhando por Verona (uma cidade de 265 mil hab), notamos um pedaço da muralha que a protegia (o que era comum nas cidades medievais), hoje dentro da malha urbana, e também um Coliseu, menor que o de Roma mas construído na mesma época (séc. I), que hoje sedia temporadas líricas.

            Instalamo-nos num hotel na região do Vêneto (em Preganziol). No dia seguinte, logo de manhã, todos nós, da excursão, embarcamos numa lancha turística (em dois níveis). Após mais ou menos uma hora de passeio, avistando as diversas ilhas próximas (uma delas é Murano, dos famosos cristais), desembarcamos em Veneza, a chamada “pérola do Adriático”, depois de ver a cúpula de Santa Maria della Salute e o Palácio Ducale (dos Doges, antigos governantes da cidade).

Veneza
             Conhecemos a praça São Marcos e seus monumentos, além da Basílica (que no cartão postal está mais bonita, sem uns andaimes laterais que então havia). Os pombos que povoam a praça não se assustam mais com os turistas (Rosi estendeu para eles o final de seu sorvete e eles, em vez de fugirem, aproximaram-se para bicar a casquinha na mão dela).  


Visitamos muitas lojas, inclusive uma só de cristais de Murano (numa oficina anexa, houve uma demonstração de sua fabricação artesanal. Senti-me então na Idade Média, vendo o “mestre” de ofício soprando o vidro...). No comércio vendem-se também muitas máscaras de seu famoso Carnaval. Percorremos os arredores da praça, e caminhamos pelas suas ruelas até a ponte Rialto, que durante muito tempo foi a única ponte a transpor o Grande Canal.   




            Veneza é uma cidade muito peculiar, com seus canais e suas ruelas. A existência dessas ruas é algo que não esperava, ao contrário dos canais. Formam um verdadeiro labirinto. São ruas muito estreitas, medievais, cheias de lojas e restaurantes para turistas. Facilmente a gente se perde ali, mas logo se reencontra, tomando como referência básica a praça São Marcos. 

            Notei que os garçons,  as camareiras dos hotéis em que nos hospedamos, os comerciantes ambulantes etc são geralmente de Bangladesh, conforme me informei (têm a pele escura como os indus). Isso se repetiria em outras cidades, inclusive (ou principalmente) em Roma, destino final de nosso passeio rodoviário. Quando eu disse para um desses vendedores que era do Brasil, ele logo me falou em futebol... Também há muitos senegaleses no comércio ambulante, de rua.

            Na praça São Marcos existe, desde 1720, o Café Florian, que fiz questão de ver  porque, segundo meu guia de viagem, era frequentado por Lord Byron, Goethe e Madame de Staël (e também por Casanova, segundo a lenda). Também vi, um pouco mais distante da praça, o Harry’s Bar, frequentado por Hemingway. Só entrei e saí, não permaneci nesses estabelecimentos, porque sentar-se ali e pedir alguma coisa é, com certeza, pagar um ágio altíssimo por toda essa sua tradição (e localização) ...

            A propósito, em Veneza (assim como em outras cidades) paga-se para usar o WC público. Na cidade dos doges, é mais caro: para tirar água do joelho paga-se 1,50 euro!

            Nosso próximo destino era Florença, com paradas em Pádua e Pisa.

            Em Pádua (ou Padova, em italiano),  há a Basílica de Santo Antônio, que guarda o túmulo do santo, falecido em 1231, local de peregrinação dos católicos de todo o mundo (assim como a Basílica de São Francisco, que visitaríamos dois dias mais tarde, em Assis). Santo Antônio, na realidade, não é de Pádua, mas de Lisboa, onde nasceu e recebeu o nome de Fernando.  Além do túmulo, o turista vê na igreja certas relíquias macabras dele como a sua arcada dentária, língua e cordas vocais, preservadas porque ele era um bom orador...

            Em Pisa, ajudamos a endireitar a Torre, conforme todos os turistas fazem, ao tirar fotos. Visitamos também a Catedral e o Batistério, onde a taxa paga dá direito a uma demonstração de sua excelente acústica.




             O conjunto arquitetônico formado pela catedral (o Duomo), batistério e campanário de Florença (com 380 mil habitantes), capital da Toscana, impressiona mais do que em outras cidades certamente porque não está localizado em uma ampla praça (como em Pisa, por exemplo) que, proporcionando ao visitante um recuo para observá-lo de longe, prepara o seu espírito para o que vai ver. Em Florença, não. Ele dobra uma esquina e, de repente, dá de cara com aquele impressionante conjunto de edifícios, situado próximo aos outros prédios da cidade.

Florença

            Junto á bela catedral de Santa Maria del Fiore está o Batistério. Sua porta lateral é tão bonita – com vários painéis dourados, em alto-relevo, representando cenas bíblicas -- que Michelangelo a chamou de "Porta do Paraíso"...

            No alto do Duomo vimos alguns turistas. Todavia, para se chegar até lá é preciso subir 464 degraus a pé, pois não tem elevador... Só cumprindo promessa!.

A "Porta do Paraíso"
            Em Florença, também conhecemos a Piazza della Signoria, onde o monge Savonarola, que tentou botar ordem no pedaço, acabou  queimado vivo. A praça é um verdadeiro museu a céu aberto; do lado direito, além de uma obra de Donatello há uma série de estátuas gregas originais e outras, envolvendo figuras mitológicas, como a que mostra Hércules lutando com um centauro. Todavia, o Davi que a gente vê ali é uma réplica. A estátua original, esculpida por Michelangelo, está hoje na Galeria dell'Academia. Visitamos esse pequeno museu que possui vários trabalhos dele, inclusive uma “Pietà” e “Os quatro prisioneiros”. Estes aparecem como que saindo de seus blocos de mármore, em correspondência com a visão do artista, que dizia antever na pedra as figuras que iria representar...    Quanto ao Davi, é uma estátua enorme, que até 1873 estava na Piazza della Signoria. Representa o jovem judeu que matou o gigante Golias com sua funda, conforme a Bíblia. Mas se era judeu, como notou nossa guia, porque não está circuncidado? Outra observação interessante a respeito da estátua, é a desproporção dos braços, ou das mãos, em relação ao resto do corpo...  Mas tudo isso tem a sua justificativa estética...(assim como a excessiva juventude de Maria, a da “Pietà” do Vaticano, com o Cristo morto no colo, de 33 anos).

Florença- "Piazza della Signoria"

            Ainda em Florença, visitamos a "Casa di Dante", um imóvel construído em 1911 no local onde o poeta nasceu para ser um museu a ele dedicado.   

            No dia 25 de maio partimos para Roma, com parada em Assis, na Úmbria, para a visita à Basílica de São Francisco. Dentro da basílica inferior, está o túmulo do santo que para mim é o que melhor representa a visão cristã do mundo. Os frades, o tempo todo, pediam silêncio aos turistas visitantes, que não cessavam seu borburinho desrespeitoso. Isso se repetiria várias vezes nas igrejas que visitamos. Essa basílica inferior, que contém afrescos de Cimabue,  foi construída em 1228, apenas dois anos após a morte de S. Francisco. Na  basílica superior há afrescos de Giotto.

Afresco de Giotto em Assis
            Enfim, chegamos a Roma, na região do Lácio, a capital da Itália, com uma população de 2,7 milhões de pessoas (o país todo tem pouco mais de 60 milhões).  Ao chegar, o ônibus nos levou para uma visita panorâmica pela cidade, especialmente pela sua área histórica, a dos fóruns imperiais, Coliseu (esse “estádio sem condição de jogo”, segundo Mané Garrincha...), Arco de Constantino etc

            No dia seguinte, fizemos um passeio por nossa conta pelos pontos turísticos obrigatórios da cidade: a bela Fontana di Trevi (onde Fellini filmou uma cena memorável de “La Dolce Vita”), o Panteão, Campo de' Fiori, Piazza Navona, igrejas de Santo Agostinho, de S. Luís dos Franceses, dentre outras.

Roma- "Fontana di Trevi"
            Reverenciei Júpiter no Panteão, esse antigo templo pagão que virou igreja católica depois. Ali está o túmulo de Rafael, sobre o qual depositei uma coroa de flores imaginária (porque gosto muito de umas “Madonas” dele e da “Escola de Atenas”). Outro túmulo que também está ali é o do rei Victorio Emanuelle II, o rei da unificação italiana, presente na forma de monumentos, nomes de logradouros públicos etc  em toda parte na Itália.  

            Nunca entrei tanto em igrejas como desta vez. As igrejas são boas não só para admirar as obras de arte mas também para descansar um pouco...Aquelas duas citadas acima, por exemplo, têm obras de Caravaggio, que a gente pode admirar sem pagar por isso. É o caso também das belas fontes existentes na praça Navona, duas de Bernini, a de Netuno e a Fontana dei Quattro Fiumi (os quatro rios, um para cada continente, são o Danúbio, o Nilo, o Ganges e o da Prata). É nessa praça  que se situa a embaixada do Brasil, num palácio adquirido no tempo de JK (consta que houve gente que se beneficiou indevidamente na compra desse imóvel...).

            No Campo dei Fiori, onde almoçamos, há uma feira, onde se vende de tudo. Compramos ali alguns souvenires. Nessa praça, há um monumento em homenagem ao filósofo Giordano Bruno, que aí foi queimado na fogueira em 1600. Nas proximidades, fica o palácio Farnese, sede da embaixada da França, onde pedi informações para o porteiro, que descobri ser português...  

            A manhã de 27 de junho, último dia nosso reservado aos passeios, foi dedicada a conhecer o Vaticano, o menor estado do mundo. É, na realidade, um bairro de Roma. Visitamos a Basílica de S.Pedro (que dentre outras preciosidades abriga a “Pietà” de Michelangelo),  e os Museus do Vaticano, onde se destaca a bela Capela Sistina, local em que os cardeais de  todo o mundo se reúnem quando devem escolher um novo papa. Ali, no meio da massa de turistas, arriscamos ficar com torcicolo admirando as pinturas de Michelangelo-- o “Juízo Final” e o teto da capela. Antes, tivemos uma aula muito informativa de História da Arte dada pela nossa guia romana, muito simpática, que se entusiasmava com o que dizia e gesticulava o tempo todo, não fosse ela italiana....

Vaticano- Basílica de S.Pedro
             Viramo-nos bem no metrô (em “la métro” ou em “la metropolitana”), após sairmos do Vaticano.  À tarde, antes de nos encontrarmos com o resto do pessoal para apanharmos o ônibus que nos levaria de volta ao hotel,  fizemos compras e visitamos ainda as igrejas de San Giovanni in Laterano e a de Santa Maria Maggiori. A primeira é a catedral de Roma. Curti bastante ali as estátuas dos doze apóstolos, seis de cada lado da nave central. Não sei quem é o seu autor, com a exceção de duas (S.Tomé e S.Bartolomeu, que são de Pierre Le Gros o Jovem (1666-1719), como informa o meu irmão Roberto).   
                                                                                                                       

"Pietà" de Michelangelo


"S.Tomé" de Pierre Le Gros



"S.Bartolomeu" de Pierre Le Gros

quarta-feira, 24 de abril de 2013



Dante e Virgílio no Inferno- Delacroix, 1822


                                     A PROPÓSITO DO “INFERNO”


Introdução ao livro "Sobre a Divina Comédia- Inferno: 
enredo, linguagem, sentido"  disponível  em


       A “Divina Comédia” é um poema narrativo. Dante narra nele aquilo que viu e sentiu em uma viagem imaginária que fez, ainda vivo, pelos três mundos do Além-- o Inferno, o Purgatório e o Paraíso, conforme a concepção da (sua) religião católica.

            A jornada de Dante pelos três mundos é na realidade uma alegoria da sua desejada ascensão espiritual, após um balanço existencial feito no meio da vida (Nel mezzo del cammin di nostra vita- I,1) (em 1300, quando ocorre essa jornada, Dante-autor tinha 35 anos). Para alcançar o Paraíso é preciso que ele percorra um árduo caminho. Ele deve passar primeiro pelo Inferno (onde estão os que sofrem eternamente a punição pelos seus pecados) e o Purgatório (onde estão aqueles que ainda têm esperança de salvação, pois se arrependeram dos pecados antes de morrer). É guiado nessas duas etapas por Virgílio, o poeta latino de quem era admirador, e que representa no poema a Razão Humana. Por isso, ele não pode guiá-lo até o Paraíso, tarefa que é atribuída a Beatriz, símbolo da Fé, o outro requisito indispensável para a desejada salvação da alma. Essa é a primeira das alegorias, num poema que faz extenso uso delas, como se indicará adiante, no texto relativo a cada um dos cantos do Inferno (também aí se destacarão as principais comparações ou símiles, as metáforas etc). 

            No “Inferno”—objeto deste trabalho – Dante relata sua descida a esse  mundo subterrâneo, dividido em nove círculos, que se afunila até o centro da Terra, onde está Satã ou Lúcifer. Destaca os sofrimentos que foram impostos a essa gente desesperada que aí é punida pelos seus pecados. Quanto mais baixo o círculo, mais grave são os pecados neles punidos e maiores os sofrimentos dos pecadores. O Inferno tem a forma de um cone invertido, que desce até o centro da Terra, como já foi dito. Esse centro da Terra é também o centro do universo, pois na época prevalecia a concepção astronômica de Ptolomeu, hoje ultrapassada.

Canto X- Farinata- G. Doré


            O relato dessa descida é povoado de seres fantásticos (eríneas, harpias, centauros, gigantes etc) e situações insólitas, que se renovam o tempo todo, graças à rica imaginação de Dante. A história progride rapidamente, em 34 cantos curtos, com cerca de 150 versos cada um. À medida que os dois poetas avançam em sua jornada, encontram novos tipos de pecadores, sofrendo a punição correspondente ao seu pecado, vinculados àquele círculo (ou zona dentro dele) que está sendo visitado no momento. Essa agilidade da ação, a linguagem utilizada e a frequência dos diálogos -- mantidos entre Dante e seu guia ou entre ele e os personagens que vai encontrando em sua jornada até o fundo do Inferno -- tornam a leitura fácil e interessante. 

                   O Canto I do “Inferno”, que nos introduz a toda obra, é essencialmente alegórico.  O poeta se encontra extraviado na selva oscura (ou selva selvaggia) (I,2 ou 5) da vida pecaminosa quando se depara com a sombra de Virgílio, que o guiará a partir de então, possibilitando que Dante avance em sua jornada de modo a evitar as três feras que o ameaçam-- um leopardo, um leão e uma loba (lonza, leone, lupa- note-se a aliteração). Para muitos intérpretes, esses animais representam os pecados punidos nas três divisões em que se agrupam os nove círculos do Inferno, onde estão os que pecaram pela incontinência (círculos 2º ao 5º; o círculo 6º é dos heréticos, numa área de transição), pela violência (círculo 7º) e pela fraude, comum (círculo 8º) ou traiçoeira (círculo 9º). Assim, o leopardo representa a incontinência, o leão a violência e a loba a fraude. A classificação dos pecados de Dante, exposta no canto XI, baseia-se na Ética de Aristóteles, o “mestre dos homens que sabem” (/.../ maestro di color che sanno- IV, 131) (esses filósofos da Antiguidade, assim como todas as pessoas que viveram antes de Cristo, como Virgílio, estão no 1º círculo, no Limbo, para onde vão também os que morrem sem ser batizados. Por outro lado, no vestíbulo do Inferno, anterior ao  1º círculo, estão os tíbios ou ignavos, que não fizeram nem o bem nem o mal durante a vida). 

                Existe uma hierarquia de pecados. São menos graves os pecados da incontinência, pois consistem em usar, embora de forma desmedida, as capacidades naturais humanas. Mas os da violência e fraude usam a razão-- um dom divino, temporário (porque no Além as almas perdem o livre-arbítrio) – para o mal.

            Os círculos dos pecadores da incontinência abrangem os luxuriosos, os glutões, os iracundos/ rancorosos e os avarentos/pródigos. Por ofenderem menos os céus, Dante-autor os deixa fora da cidade de Dite, ou de Lúcifer (Dite é o nome latino, pagão, para designar o rei do mundo dos mortos). Virgílio e seu discípulo chegam até ela após percorrerem o círculo 5º, dos iracundos/rancorosos. Os heréticos estão dentro da cidade de Dite.

            Dentro dos limites dessa cidade (a città dolente) incluem-se o 6º, 7º, 8º e 9º círculos. O da violência, o 7º, abrange três voltas ou giros: o dos violentos contra o próximo e seus bens (assassinos, saqueadores), o dos violentos contra si mesmo e seus bens (suicidas, perdulários) e dos violentos contra Deus e a natureza (blasfemadores, sodomitas, usurários).

            O 8º círculo, da fraude comum, é formado por dez fossas ou bolsas -- o Malebolge --, uma para cada tipo de fraude. Abrange os rufiões/sedutores, bajuladores, simoníacos, advinhos e feiticeiros, os praticantes da barataria (tráfico de influência), os hipócritas, ladrões, maus conselheiros, semeadores de discórdias e falsificadores (de metais, pessoas, moedas e palavras).   
 
            Por fim, o 9º círculo é o dos piores fraudulentos, os que traíram os parentes, a pátria, os convidados/associados e os benfeitores. Para cada um desses quatro tipos de traição, Dante reserva uma área do 9º círculo, chamadas respectivamente de Caína, Antenora, Ptolomeia e Judeca. No fundo do Inferno não há fogo mas gelo. Ele é gelado em consequência do vento muito frio originado pelo bater de asas de Lúcifer, que gela o Cocito, cujas águas assim diferem daquelas dos outros três rios do Inferno (o Aqueronte, o Estige e o Flegetonte). É aí, na Judeca, que está Lúcifer, encravado no gelo, um monstro enorme com uma cabeça de três faces, caricatura da Santíssima Trindade. Em suas bocas são triturados Judas (o mais punido), Brutus e Cássio, os que traíram seus benfeitores (Jesus Cristo e Júlio César), representantes das duas dimensões mais importantes da vida social para Dante, a religiosa e a política, a Igreja e o Império.

            Estão presentes, nos diversos cantos do Inferno, seres míticos, ou monstros,criações das mais originais da arte dantesca – porque colocadas no limiar de um círculo do inferno – parecem a um tempo  a estátua do vestíbulo de um palácio e a síntese de seu interior”, nas palavras de Attilio Momigliano[1].   Assim, no  2º ao 5º círculo,  encontramos Minós (canto V), que indica, pelo número de vezes que agita sua cauda, o círculo do inferno para onde deve ir o recém-chegado; Cérbero, com três bocas (canto VI, dos gulosos); Pluto, deus da riqueza na mitologia grega (canto VII, dos avarentos e perdulários; também dos iracundos)  e  Flégias -- que irado ateou fogo ao templo de Apolo --, barqueiro do Estige (canto VIII, dos iracundos). No círculo 7º, dos violentos, os monstros são meio animais meio homens como os centauros, o Minotauro e as harpias (cantos XII a XVII), imagens apropriadas da bestialidade humana. No círculo 8º, do Malebolge, estão os demônios. Na passagem para o 9º círculo, os gigantes. E neste último círculo, está Lúcifer (canto XXXIV), que ficou preso no gelo do centro da Terra quando despencou do Céu.  Ele era o mais belo dos anjos (Lúcifer significa o que transporta luz) mas por soberba rebelou-se contra Deus e foi expulso do Céu juntamente com os seus partidários, tornando-se essa figura medonha que habita a região mais profunda do Inferno.

             Tipicamente, cada canto do “Inferno” começa com uma comparação  que  ilustra o que Dante está vendo ou sentindo ao visitar aquele determinado círculo, ou zona dele, onde estão os condenados, sofrendo a punição que lhes foi imposta. Em geral Dante pergunta a um deles quem ele é. Os condenados, frequentemente, são gente da Florença de sua época, ou do passado recente, como os que participaram da luta entre guelfos e guibelinos do século XIII (Dante usa as peculiaridades da política florentina ou de outras questões locais a fim de extrair delas verdades universais). Para obter resposta do condenado promete falar bem dele quando voltar ao mundo dos vivos, pois os condenados são sensíveis a esse argumento, mostrando que valorizam sua boa reputação em nosso mundo. Virgílio informa aos habitantes do Inferno que Dante é vivo ainda e que o está visitando autorizado pela vontade divina, o que supera vários obstáculos que ele encontra pelo caminho. Também esclarece dúvidas de seu discípulo sobre o Inferno (pois ele já desceu antes ao mundo dos mortos, o reino de Pluto). Cada canto representa uma etapa a ser vencida nessa jornada dos dois poetas rumo ao centro do inferno, onde está Lúcifer.

            Dante identifica os pecadores, que ele vai encontrando em sua perambulação. O que esses personagens lhe contam, não só sobre si mas sobre terceiros, e a situação em que se encontram lhe fornecem material para compor as diversas cenas do poema, algumas inesquecíveis.

            Assim como ocorre com a linguagem utilizada pelo poeta, que pode assumir diferenças entre os cantos, umas mais e outras menos ásperas, também as cenas variam entre si. Isso pode ser notado na diferença entre os três cantos mais famosos do “Inferno”, os que incluem os episódios de Paolo e Francesca (canto V), de Ulisses (canto XXVI) e do conde Ugolino (canto XXXIII). Enquanto os dois primeiros apresentam cenas mais suaves, apesar de seus protagonistas estarem sofrendo o castigo que lhes foi imposto, o terceiro é mais grotesco e chocante. 

            Paolo e Francesca são os amantes que, lendo juntos um romance medieval, tomam consciência de seu amor. Ambos foram mortos pelo marido dela (e irmão mais velho de Paolo). Sua punição é aquela do círculo dos luxuriosos. Vagueiam juntos, eternamente, no 2º círculo, transportados por um vento muito forte.

Paolo e Francesca
            O episódio de Ulisses mostra como a grande arte pode ser insólita, surpreendente (para Poe, a surpresa é qualidade essencial à poesia). Na 8ª fossa do Malebolge, os condenados ardem dentro das chamas. De repente, uma delas tremula e sua ponta, movendo-se como uma língua, começa a falar. É Ulisses, que passa então a relatar a sua história. Esse relato difere da história narrada por Homero, pois o herói grego aqui não retorna a Ítaca, para junto de Penépole e sua família, mas prossegue viagem, aventurando-se pelo mar desconhecido, além do estreito de Gibraltar  (limite do mundo antigo). Sua justificativa está contida nas palavras que diz para convencer os companheiros: “não fostes feitos para viver como brutos/ mas para buscar virtude e conhecimento” (fatti non foste a viver come bruti,/ ma per seguir virtute e canoscenza- XXVI, 119-120). Lançam-se assim ao mar tenebroso, e nele perecem.  

            O Canto XXXIII, que contém a história de Ugolino, já inicia assim:

La bocca sollevò dal fiero pasto
quel peccator, forbendola a' capelli
del capo ch' elli avea di retro guasto (v. 1-3)

A boca levantou do fero pasto/ aquele pecador, limpando-a nos cabelos/ da cabeça que ele roía atrás.

            Os dois condenados envolvidos nessa cena, que se passa na Antenora (área do 9º círculo onde estão os traidores políticos) são o conde Ugolino della Gherardesca, guibelino, ex-principal magistrado de Pisa, e o outro, cuja cabeça é devorada, é o arcebispo Ruggieri, que o traiu, prendendo-o numa torre, em Pisa, onde o deixou morrer de fome, juntamente com seus filhos. No final, um verso ambíguo sugere o que de pior poderia acontecer nessa situação em que o conde faminto está rodeado dos cadáveres do filhos: “Depois, mais do que a dor, pôde o jejum” (Poscia, più che 'l dolor, poté 'l digiuno- v.75).


Ugolino- Henry Fuseli

            A “lei do contrapasso” (a correspondência da punição recebida com o pecado cometido) manifesta-se no episódio de forma bem evidente: assim como Ruggieri fez Ugolino morrer de fome na torre, agora no Inferno a punição eterna dele é servir de pasto ao conde. 



             Bertrand de Born- G. Doré

            Há outras cenas grotescas que ficam gravadas em nossa memória:  por exemplo, a de Bertrand de Born (canto XXVIII), um dos “semeadores de discórdia”, que caminha segurando a própria cabeça, separada do corpo, como se fosse uma lanterna; a do canto XXX, dos falsificadores de metais, em que um dos condenados, raivoso, crava os dentes na nuca de Capocchio; a referência, numa dada comparação no Canto XXVII, a um boi de bronze que mugia, o qual, como depois o leitor fica sabendo, tratava-se de um antigo instrumento de tortura e morte, em que o boi era aquecido com uma pessoa dentro dele) etc


Canto XXX-A.W.Bouguereau, 1850
            No Canto XX, dos feiticeiros e advinhos, o castigo destes, pela “lei do contrapasso”, é, ironicamente, ter a cabeça voltada para trás, de modo que não podem agora nem ver o que está à sua frente, só o que está atrás. Dante-autor explora visualmente tal imagem insólita, dirigindo-se ao leitor com familiaridade (aliás, esta é outra característica formal do poema).

            O “Inferno” contém até cenas de conteúdo intencionalmente repugnante (para acentuar a sordidez do local). Na 10ª. fossa de Malebolge (canto XXIX) estão os falsários, cujos lamentos são tão horríveis que fazem Dante tapar os ouvidos com as mãos. Além disso, eles exalam um mau cheiro insuportável (“/.../ e tal fedor daqui subia/ como costuma sair de membros apodrecidos” (e tal puzzo n’ usciva/ qual suol venir de le marcite membre - v.50-51). Mais adiante, Dante-autor destaca dois dos condenados, que estavam sentados naquele lugar, apoiando-se um no outro, com todo o corpo coberto de crostas.  E explora aqui esta  imagem impressiva:

come ciascun menava spesso il morso
de l’unghie sopra sé per la gran rabbia
del pizzicor, che non ha più soccorso;

e sì traevan giù l’unghie la scabbia,
come coltel di scardova le scaglie
o d’altro pesce che più larghe l’abbia (v. 79-84)

/.../ cada um investia contra si mesmo/ as unhas, pela grande comichão/ que sentiam, pois não havia outro jeito;
e assim desbastavam as crostas/ como a faca tira as escamas da carpa/ ou de outro peixe, com mais largas escamas.

            Assim, Dante mostra que o poético não abrange só o sublime, mas todas dimensões da condição humana, até mesmo o asqueroso.

            Outro exemplo ocorre no Canto XVIII, dos bajuladores, que estão no fundo da segunda fossa do Malebolge, imersos nas fezes: Diz Dante:

Quivi venimmo; e quindi giù nel fosso
vidi gente attuffata in uno sterco
che da li uman privadi parea mosso.

E mentre ch’ío là giù con l’occhio cerco,
vidi un col capo sì di merda lordo,
che non parëa s’ era laico o cherco.  (v. 112-117)

Ali chegamos; e lá no fosso/ vi gente chafurdada em tal esterco/ que parecia provir de privadas humanas.
E enquanto o fundo com os olhos investigava,/ vi um com a cabeça tão suja de merda/ que não distinguia se era leigo ou clérigo.

            Mas também há cenas de natureza diversa, como a dos usurários, referidos no Canto XVII. Eles cumprem pena no 7º círculo, na área dos que praticaram violência contra Deus pela atividade estéril, antinatural, que desenvolveram. Estão sentados num areal, sob uma chuva de fogo, com os olhos permanentemente voltados para as bolsas penduradas em seus pescoços, onde consta a cor e o emblema das famílias a que pertencem. Pelas características heráldicas desses emblemas, que Dante cita na sequência, o leitor, ou o ouvinte, medieval desses versos devia identificar  facilmente as famílias de usurários famosos da época (o que não é o nosso caso). 

            Dante-autor faz a crítica à usura no Canto XI, apresentando uma argumentação filosófica e religiosa que certamente reforçava aquela da burguesia comercial italiana de então contra os usurários. No Canto XVI, à pergunta de Jacopo Rusticucci sobre a situação atual da sua cidade, Dante assim se refere a Florença, permitindo-nos entrever as transformações econômicas que se processavam então na Europa do final da Idade Média, do capitalismo em formação:

La gente nuova e i sùbiti guadagni
orgoglio e dismisura han generata,
Fiorenza, in te, sì che tu già ten piagni. (XVI, 73-75)

A gente nova e os súbitos ganhos/ orgulho e excessos em ti originaram,/ ó Florença, que por isso já choras.

            O “Inferno” envolve em seu enredo figuras mitológicas, incorporando ao poema as histórias curiosas e singulares a respeito dessas figuras. Todavia, Dante não reconta as histórias, apenas faz ligeiras menções a elas, dando-as como subentendidas. No Canto XII, por exemplo, são referidos o Minotauro e os centauros. No Canto XXIV Dante compara o renascimento de um condenado à fênix mitológica. Essa frequente alusão à mitologia clássica, em alguns casos explorando mais detidamente os pormenores de suas lendas, encanta o leitor moderno como deve ter encantado o antigo. No  Canto XXXII Dante invoca as musas para auxiliá-lo, aquelas “que ajudaram Anfião a murar Tebas” (ch’aiutaro Anfïone a chiuder Tebe- v.11).  Anfião  recebeu das musas um poder encantatório: ao tocar a sua lira as pedras da natureza se moveram e formaram por si mesmas o muro de Tebas. A lenda mitológica está sempre subentendida nos versos de Dante, que se integra ao que este diz, contribuindo para reforçar o ambiente onírico, mágico, do poema. Ele também pressupõe as histórias de vida dos personagens que vai citando, seus contemporâneos ou não.

            Dante mistura personagens reais, históricos (seu mestre Brunetto Latini, o papa inimigo Bonifácio V, Brutus, Cássio), com outros fictícios: literários (Ulisses, da “Ilíada” e “Odisseia”, Eneas, da “Eneida”), da mitologia greco-latina (Orfeu, o Minotauro, Pluto) ou judaico-cristã (i.e. da Bíblia) (Caifás, Raquel). No Canto X há uma simples menção ao “Cardeal” e a Frederico II, sem que Dante dê mais informação sobre eles (a não ser o contexto do próprio canto, que trata dos heréticos). Para nós, leitores do século XXI, é necessário ler as notas dos comentaristas (que na maioria das vezes dizem mais ou menos o mesmo, os atuais se apoiando nos mais antigos) para percebermos todo o alcance dos versos, ampliando assim o prazer estético que eles proporcionam.

            Dante não se mostra preconcebido contra os sodomitas (cantos XV e XVI).  Pelo contrário, seus comentários relativamente a Brunetto Latini (a quem se mostra reverente e chama de mestre) e aos três líderes guelfos que aparecem no Canto XVI revelam que ele tinha muita consideração por esses personagens, de modo que o pecado que cometeram não interferia em sua avaliação deles. Isso deve atenuar as críticas atualmente feitas ao poeta florentino, que o acusam de ser homofóbico; mas não há como atenuar a acusação de que ele é anti-islâmico: sua postura é inequivocamente católica, e os muçulmanos na época eram seus inimigos declarados...  Uma crítica mais antiga é a de Nietzsche, que chama Dante de “hiena a versificar entre as sepulturas”, conforme Borges. Mas Dante, como disse este, não se compraz com a dor[2]. Não se compraz com a crueldade dos castigos que foram impostos aos pecadores. Ele procura ser um católico coerente. Encara a questão do pecado e sua punição de modo objetivo, de acordo com a doutrina de sua religião, mesmo que tenha simpatia pelo condenado (como ocorre, por exemplo, com Francesca, a amada de Paolo, ou o próprio Brunetto). 

            Dante preferiu usar em sua “Comédia” o italiano falado pelo povo do que o latim dos eruditos. Ele explora a sonoridade das palavras, da qual a rima é o exemplo mais evidente, mas não o único (ele adota o esquema ABA BCB CDC... para as rimas dos versos decassílabos, que formam os tercetos do poema). Ele usa também assonâncias, aliterações, sinestesias, polissíndetos, enfim joga com todos os elementos formais da linguagem para alcançar determinados efeitos estéticos em sua poesia, isso sem falar nas alegorias, comparações, metáforas etc (as mais importantes das quais serão destacadas adiante, no comentário a cada canto).

            Dante-autor quer usar linguagem apropriada ao contexto em que se situa. No Canto XXXII, ele afirma que gostaria de ter “rimas ásperas e rouquenhas” (rime aspre e chiocce- v.1) para descrever uma dada situação no Inferno, o que revela a sua preocupação permanente em buscar a forma poética mais adequada ao seu objeto. Assim, o “Inferno” apresenta uma linguagem que se quer áspera, rude, que será diferente daquela adotada no “Paraíso” (a propósito, o nome de Deus nunca é mencionado no “Inferno”. Os personagens usam circunlóquios para nomeá-lo).

            Dante não tem falsos pudores, constrangimentos, em sua maneira de se expressar. É direto e vigoroso. A expressão do mundo baixo, vil, do Inferno, em que descreve situações degradantes e até repugnantes, se faz por uma linguagem que chega a ser chula, o que não se esperaria num poema de temática religiosa. Isso porém só ocorre em alguns cantos, que deixam, todavia, uma forte impressão no leitor. Na maioria deles, a linguagem é mais ou menos neutra, enquanto o que choca mais são as cenas descritas, de caráter grosseiro ou mesmo repugnante, como vimos acima.

            No Canto XVIII, Dante coloca os bajuladores num poço de fezes (cf. referência acima), considerando tal castigo o mais adequado para o seu pecado, conforme a lei do contrapasso. Virgílio no final do canto sugere a Dante olhar a bajuladora Taís mais adiante. Quer que ele veja a face

di quella sozza e scapigliata fante
che là si graffia con l’unghie merdose,
e or s’accoscia e ora è in piedi stante.

Taïde è, la puttana /.../  (v.130-133)

daquela suja e desgrenhada rameira/ que lá se arranha com suas unhas cheias de merda,/ e ora se agacha, ora se levanta.

É Taís, a puta /.../

            No Canto XXVIII, dos que semearam a discórdia, vemos Maomé com o corpo aberto, fendido, mostrando as vísceras. Dante vê aproximar-se alguém

rotto dal mento infin dove si trulla.

 Tra le gambe pendevan le minugia;
la corata pareva e 'l tristo sacco
che merda fa di quel che si trangugia. (v.24-27)

rasgado desde o queixo até onde se peida.
Por entre as pernas pendiam os intestinos;/ apareciam as vísceras e o triste saco,/ que merda faz daquilo que se engole.

            Porém, a linguagem utilizada também pode ser mais sutil. Assim, no Canto XV, dos sodomitas, por exemplo, Dante usa de um jogo de palavras ao referir-se ao bispo de Florença que o papa, transferiu, pela sua conduta escandalosa, do Arno ao Bacchiglione, “onde deixou os dissolutos membros” (dove lasciò li mal protesi nervi- v.114), i.e., morreu. Segundo os comentaristas, a expressão mal protesi nerve  contém um intraduzível jogo de palavras, pois nervi pode ser traduzido como o “órgão sexual masculino” e protesi como “ereto”, voltado para propósitos antinaturais (mal); mas também nervi pode ser “nervos” e mal protesi “dissolutos”.

            Usar a linguagem chula era uma decorrência da opção que Dante fez por usar a linguagem do povo. Também adota seus usos e costumes. No  Canto XXVI, ele afirma que “se próximo ao amanhecer se sonha o vero” (Ma se presso al mattin del ver si sogna- v.7), conforme a crendice popular, logo cairão sobre sua cidade natal os males previstos ali mencionados. Dante “como poeta do mundo secular” (Auerbach) incorpora tal crendice a seus versos, tornando-os desse modo mais próximos do gosto do povo de sua época. Saliente-se que não só a linguagem por palavras chulas é usada. Também é usada a linguagem por gestos:

1) obscenos e blasfemos, quando Vanni Fucci faz figas a Deus, no início do Canto XXV. Como consequência, ele é imediatamente atacado pelas serpentes;

 2) grotescos e hilários, pela atitude do diabos no Canto XXI, que trata dos que praticaram a barataria (tráfico de influência). A certa altura do canto, o zombeteiro (diabo) Scarmiglione ameaça espetar Dante no traseiro, mas Malacoda manda-o aquietar-se. Por outro lado, no final deste canto, uma escolta de dez demônios vai acompanhar os dois poetas. Os diabos antes fizeram um sinal com a língua e os dentes para Barbariccia, e este em resposta “fizera do cu trombeta” (ed elli avea del cul fatto trombetta- v. 139), convocando os companheiros para iniciar a jornada. O canto seguinte, Canto XXII, é movimentado pela ação dos diabos. Eles vigiam os condenados por barataria, imersos no piche fervente, porém brigam entre si e acabam caindo nesse fosso.

Lúcifer- G.Doré

            Além da linguagem, outros aspectos formais devem ser destacados.

            Já vimos que um dos fatores que tornam mais fácil a leitura desse poema consiste na frequência dos diálogos, mantidos não só entre Dante e Virgílio, mas também entre Dante e os personagens que encontra ao longo de sua insólita jornada, que tem um final feliz (a chegada no Paraíso, a salvação da alma). Aliás, para uns, essa narrativa dramática se chama “comédia” por causa desse final feliz. Mas para outros, como Attilio Momigliano, Dante a chamou assim por “estar escrita num estilo claro, característica distintiva, segundo as doutrinas do tempo, da composição chamada ‘Comédia’[3].

            Percebe-se, pelo modo como os versos descrevem as cenas ou pelo uso de diversos recursos pelo autor (alegorias, símiles etc presentes em todos os cantos), que a poesia de Dante é essencialmente visual. É de se estranhar, por isso, que até hoje não exista um grande filme baseado nesse poema fascinante, ao contrário do que ocorre com as artes plásticas.

            De um ponto de vista estritamente religioso, os sofrimentos infligidos aos pecadores, no Inferno (se tal concepção fosse verdadeira), seriam impostos sobre as almas deles, e não sobre os seus corpos. Não seriam sofrimentos físicos. Mas é dessa forma que são tratados no poema. Assim, algo essencialmente abstrato reveste-se de um caráter concreto, é materializado, descrevendo-se uma situação equivalente, ou análoga, à verdadeira, na concepção católica. Qual a vantagem desse procedimento? é a de que ele permite ao poeta explorar todo o seu potencial  visual, plástico, na descrição dos horrores do Inferno, sentidos, por empatia, pelo leitor (ao qual Dante, muitas vezes, se dirige diretamente, acentuando assim o seu caráter  de verossimilhança ). Essa é uma razão a mais para o fascínio que o poema exerceu ao longo dos séculos. 
            Na “Comédia” os mortos têm capacidade de prever o que vai acontecer (mas não sabem o que está acontecendo na atualidade). Como a ação do poema se passa em 1300 (a jornada no Inferno inicia na Quinta-Feira Santa e se conclui no Domingo de Páscoa) e ele foi começou a ser escrito em 1307-1308[4], Dante usa o artifício de fazer com que os condenados prevejam aquilo que de fato já ocorreu. Estão nesse caso as previsões de Ciacco, no Canto VI, v.64 e seg., sobre as lutas políticas entre guelfos negros e brancos em Florença, e as consequências trágicas daí advindas para a vida de Dante (que era um guelfo branco).

            No Canto XXVIII, Dante evoca uma série de eventos ocorridos na Apúlia (i.e. na Itália meridional) que produziram muito derramamento de sangue. Ainda que se reunissem todas as vítimas das lutas aí travadas, com seus corpos mutilados, isso não igualaria ao que o poeta diz ter visto na nona “bolgia”, a dos “semeadores de escândalos e de cismas” (seminator di scandalo e di scisma- v.35). Dentre as lutas mencionadas, cita a “longa guerra/ que de anéis fez tantos despojos” (la lunga guerra/ che de l' anella fé sì alte spoglie- v.10-11), ou seja a segunda guerra púnica, em que Anibal levou para Cartago uma pilha de anéis retirados dos romanos abatidos. Note-se a maestria formal de Dante-autor que usa um pormenor- o anel, seu acúmulo- para indicar indiretamente toda a magnitude da carnificina.

            No início do Canto XXX destaque-se a força expressionista da comparação, quando Dante refere-se a Troia, após sua derrota pelos gregos. Lá, a rainha Hécuba foi feita prisioneira e, louca de dor ao ver os filhos mortos, ladrou como um cão, “tanto a dor deformou a sua mente” (tanto il dolor le fé la mente torta- v. 21).

            Algumas referências indiretas ocorrem no poema decorrentes do fato de Dante-personagem ainda estar vivo, especialmente ao seu peso. E o modo como Dante-autor as faz, em contraste com as sombras que vai encontrando no Inferno, o auxilia a criar um clima “sobrenatural” muito sugestivo. No Canto XII, aproveitando a desorientação causada pela fúria do Minotauro, os dois poetas avançam por uma passagem e Dante nota que as pedras se moviam quando ele pisava nelas, “pelo peso diferente”. Depois, quando os dois se aproximam do centauro Quíron, este diz:

/.../ “Siete voi accorti
che quel di retro move ciò ch'el tocca?
Così non soglion far li piè d'i morti.” (v. 80-82).

Vós notastes/ como o de trás move aquilo que toca?/ Isso não costuma fazer os pés dos mortos”


            Certamente a conclusão mais interessante a que se pode chegar nessas considerações, levando em conta o sentido geral da “Divina Comédia”, exposto no início deste texto, e o desdobramento do poema (cujo objetivo último é convencer os leitores da verdade de sua religião), é a de que Dante é um poeta engajado. Ele estava bem consciente disso quando disse:

O voi ch’avete li’ntelletti sani,
mirate la dottrina che s’asconde
sotto ‘l velame de li versi strani.  (IX, 61-63) 

O vós que tendes o intelecto são/ observai a doutrina que se esconde/ sob o velame desses versos estranhos.

            Ele procurou convencer o seu leitor pelo medo da punição do pecado, tão expressivamente descrita no Inferno:


O vendetta di Dio, quanto tu dei
esser temuta da ciascun che legge
ciò che fu manifesto a li occhi mei!  (XIV, 16-18)

Ó vingança de Deus, quanto tu deves/ ser temida por qualquer um que leia agora/ aquilo que foi manifesto aos olhos meus!

            Dante é assim um poeta comprometido com a defesa de uma concepção religiosa, católica, do mundo, o que prova que é possível haver simultaneamente engajamento a uma causa e grande poesia. Não importa se sua causa é discutível. O importante é que o poeta empenhou-se em defender a causa em que acreditava (a opção de Dante pela língua falada pelo povo, e não pelo latim dos eruditos, deve estar relacionada também a esse engajamento).

              O fato de ser católico, todavia, não impede Dante de fazer uma crítica violenta à Igreja de seu tempo. Ele ansiava pelo retorno à simplicidade e ao idealismo da Igreja primitiva, anterior à conversão do imperador Constantino, que a dotou de poder temporal. Já no primeiro canto do “Inferno” Dante faz uma crítica dura à loba, que alguns comentaristas interpretam como sendo à Cúria romana. E no Canto XIV, dos blasfemadores (violentos contra Deus), na alegoria do “grande homem de Creta”, a Igreja é o pé direito, de material mais frágil (terracota). No Canto XIX, Dante trata dos simoníacos, não poupando fustigadas nos que vendem as coisas sagradas. Coloca-os no 8º círculo do Inferno (terceira vala do Malebolge). Esse canto contém uma alegoria exclusiva da Igreja Católica que envolve sua crítica numa linguagem contundente. Em sua censura Dante-autor cita S.João Evangelista:

Di voi pastor s'accorse il Vangelista,
quando colei che siede sopra l'acque
puttaneggiar coi regi a lui fu vista;

quella che con le sette teste nacque,
e da le diece corna ebbe argomento,
fin che virtute al suo marito piacque. (v.106-111)

De vós pastores ocupou-se o Evangelista/ quando viu aquela que se assenta sobre as águas (a Igreja)/ prostituir-se com os reis;
aquela que nasceu com sete cabeças/ teve a força e o apoio de dez cornos,/ enquanto a virtude agradava ao seu marido (o papa)

Atente-se para a linguagem peculiar utilizada: “puttaneggiar coi regi”... Segundo os comentaristas, essa alegoria foi inspirada numa figura do Apocalipse. As sete cabeças representam os sete sacramentos e os dez cornos, os dez mandamentos.

            O engajamento da poesia de Dante a uma causa é animador para todos nós que entendemos a poesia como algo mais do que simples jogos verbais, formalísticos e divertidos como muitos a concebem atualmente (há até os que negam a própria existência do verso). Compartilhamos da opinião de que a poesia deve ter um sentido maior, dado por versos substanciosos, de conteúdo humanista, os quais, por outro lado, não precisam ser estranhos, necessariamente, daquela dimensão lúdica... 

NOTAS


[1] Momigliano, Attilio-- “História da Literatura Italiana”. S.Paulo: Instituto Progresso Editorial S.A., 1948, p. 41-42. 
[2] Borges, Jorge Luis- “Sete Noites” in “Obras Completas”. São Paulo: Globo, 1999- v.3, p. 236. 
[3] Momigliano, Attilio-- “História da Literatura Italiana”, op cit, p. 45 
[4] Mandelbaum, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Inferno”, op cit, p. I.


Recursos on line:


-No site abaixo, da Universidade de Princeton- USA (“Princeton Dante Project”), que contém muita informação interessante sobre a “Divina Comédia”, poderão ser ouvidos os versos originais do “Inferno”: 



-Alguns sites que mostram obras de arte inspiradas pela “Divina Comédia”:

(ilustrações de Gustave Doré, Sandro Botticelli e Salvador Dalí)  

(ilustrações para o “Inferno” por Johannes Stradanus, Federico Zuccari  e outros artistas, desde o século 16)

(ilustrações de William Blake para a “Divina Comédia”)

(ilustrações de Salvador Dalí para o “Inferno”)
(coletânea de ilustrações inspiradas pela “Divina Comédia” ao longo dos séculos)