terça-feira, 4 de junho de 2013



VIAGEM À ITÁLIA


A catedral de Milão


            De 20 a 28 de maio, neste ano da graça de 2013, participamos, eu e minha consorte (com sorte!), de uma excursão turística pela terra dos grandes artistas e mafiosos.

            A primeira urbe visitada foi Milão, capital da Lombardia, com cerca de 1,3 milhão de almas, na região setentrional do país (é assim menor que Curitiba, com 1,8 milhão. Mas não devemos menosprezar as cidades menores...). Como se sabe, trata-se de um centro industrial importante que se destaca também pelo design e pela moda (pensei que só ia encontrar gente elegante ali, mas não foi o que aconteceu). Em termos turísticos, sua atração principal é a imponente e belíssima Catedral gótica, com uma infinidade de pequenas torres, esculturas e detalhes. Se não fôssemos uns turistas apressados e utilitaristas, ficaríamos horas observando tudo o que ela mostra externamente. Aliás, é muito mais bonita por fora do que por dentro. Ao seu lado, está a Galeria Vittorio Emanuelle II, um prédio do século XIX, que abriga diversas lojas de griffe (Prada, Louis Vuitton etc), restaurantes e livraria (todas as vitrines dela mostravam então o último livro do autor de “O Código Da Vinci”, Dan Brown, intitulado “Inferno”, que ainda não tinha sido lançado aqui. Uma dica: quem quiser entender melhor o contexto desse livro, que será seguramente mais um “best seller”, deve ler antes o meu trabalho “Sobre a Divina Comédia-Inferno”, que pode ser encomendado no site  http://www.agbook.com.br/authors/67231 Gostaram da estratégia mercadológica?). No mosaico do piso da Galeria, deparei de repente com a imagem de Rômulo e Remo -- os fundadores míticos de Roma -- mamando nas tetas da loba (no Brasil, são os empresários que mamam nas tetas do governo). Alguns passos dali notei outra imagem, a de um touro, à qual está associado um costume curioso: para atrair a boa sorte, as pessoas apoiam o salto do sapato nos testículos do animal e dão um giro de 360º em cima deles. Por causa do desgaste natural dessa parte do corpo, o coitado do touro já se apresenta meio castrado...

            Dentro os pontos turísticos obrigatórios da cidade, incluem-se ainda o famosíssimo Teatro Scala, o castelo Sforzesco e a “Última Ceia” de Leonardo da Vinci.

            Era no Scala de Milão que Verdi apresentava as suas óperas e foi ali que o nosso Carlos Gomes estreou “O Guarani”, que todo o mundo só conhece pelo prefixo da “Voz do Brasil”, o que é uma injustiça para com o maestro brasileiro. Mas o prédio do Scala não faz justiça ao seu renome...  

            Quanto ao castelo, era o palácio da família Sforza, que detinha o poder político da cidade. Leonardo da Vinci, protegido da família, aí morou por 17 anos. Aliás, Milão homenageou o grande gênio homossexual (orgulho justificado do movimento gay) com um belo monumento, uma estátua dele de corpo inteiro, rodeado pelos discípulos, mais abaixo. Dentro do castelo, estivemos no Museu de Arte Antiga, que em seu acervo possui uma outra “Pietà” de Michelangelo, a Rondanini, diferente daquela, mais conhecida, que está no Vaticano. Havia tantas obras antigas ali, num ambiente amplo e meio escuro, que quando senti uma coceira na perna disse a minha mulher que eu devia ter sido picado por um pernilongo ...do século III !

            Infelizmente não pudemos ver a “Última Ceia” de Leonardo, no refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie. Era preciso ter feito a reserva com muita antecedência... Mas quem queria ver aquele afresco velho e desbotado?... Também os italianos não deram muita importância a ele no passado, senão não teriam aberto uma porta embaixo do referido...




            Vale a pena registrar ainda, o que é de interesse para nós, brasílicos,  que numa  praça central de Milão há uma placa sobre a relva em homenagem a Chico Mendes, com uns dizeres elogiosos a ele, pela sua defesa dos povos da floresta amazônica. 
  
            De Milão seguimos de ônibus para a região do Vêneto, fazendo uma parada em Verona, a cidade onde se passa a tragédia “Romeu e Julieta” de Shakespeare. O bardo aliás não conheceu a cidade. Baseou sua peça em outros autores, que por sua vez se basearam em cronistas do século XIV. Eles se referiram à rivalidade entre duas famílias da região. Romeu pertencia a uma das famílias e Julieta, à outra (essa luta entre famílias devia ser uma coisa comum na época, também em outras cidades, como se infere pelas notas explicativas à “Divina Comédia”, que foi escrita no começo dos 1300). Em Verona há uma “casa de Julieta” visitada pelos turistas (a casa é antiga mas o balcão, onde a moça recebia as declarações do jovem enamorado, e de onde jogava as suas tranças, é de 1930, quer dizer, foi feita mais recentemente para corresponder ao mito literário).  Do lado de fora, há uma estátua de Julieta, de bronze, cujos seios já estão desgastados (dourados, na realidade), de tanto os turistas passarem a mão neles, ao posarem para fotografias (turista é chegado em passar a mão em certos monumentos. Em Florença, vimos algo semelhante com relação a um javali de bronze cuja ponta do focinho também já estava meio dourada de tanto os visitantes passarem a mão ali...).

            Caminhando por Verona (uma cidade de 265 mil hab), notamos um pedaço da muralha que a protegia (o que era comum nas cidades medievais), hoje dentro da malha urbana, e também um Coliseu, menor que o de Roma mas construído na mesma época (séc. I), que hoje sedia temporadas líricas.

            Instalamo-nos num hotel na região do Vêneto (em Preganziol). No dia seguinte, logo de manhã, todos nós, da excursão, embarcamos numa lancha turística (em dois níveis). Após mais ou menos uma hora de passeio, avistando as diversas ilhas próximas (uma delas é Murano, dos famosos cristais), desembarcamos em Veneza, a chamada “pérola do Adriático”, depois de ver a cúpula de Santa Maria della Salute e o Palácio Ducale (dos Doges, antigos governantes da cidade).

Veneza
             Conhecemos a praça São Marcos e seus monumentos, além da Basílica (que no cartão postal está mais bonita, sem uns andaimes laterais que então havia). Os pombos que povoam a praça não se assustam mais com os turistas (Rosi estendeu para eles o final de seu sorvete e eles, em vez de fugirem, aproximaram-se para bicar a casquinha na mão dela).  


Visitamos muitas lojas, inclusive uma só de cristais de Murano (numa oficina anexa, houve uma demonstração de sua fabricação artesanal. Senti-me então na Idade Média, vendo o “mestre” de ofício soprando o vidro...). No comércio vendem-se também muitas máscaras de seu famoso Carnaval. Percorremos os arredores da praça, e caminhamos pelas suas ruelas até a ponte Rialto, que durante muito tempo foi a única ponte a transpor o Grande Canal.   




            Veneza é uma cidade muito peculiar, com seus canais e suas ruelas. A existência dessas ruas é algo que não esperava, ao contrário dos canais. Formam um verdadeiro labirinto. São ruas muito estreitas, medievais, cheias de lojas e restaurantes para turistas. Facilmente a gente se perde ali, mas logo se reencontra, tomando como referência básica a praça São Marcos. 

            Notei que os garçons,  as camareiras dos hotéis em que nos hospedamos, os comerciantes ambulantes etc são geralmente de Bangladesh, conforme me informei (têm a pele escura como os indus). Isso se repetiria em outras cidades, inclusive (ou principalmente) em Roma, destino final de nosso passeio rodoviário. Quando eu disse para um desses vendedores que era do Brasil, ele logo me falou em futebol... Também há muitos senegaleses no comércio ambulante, de rua.

            Na praça São Marcos existe, desde 1720, o Café Florian, que fiz questão de ver  porque, segundo meu guia de viagem, era frequentado por Lord Byron, Goethe e Madame de Staël (e também por Casanova, segundo a lenda). Também vi, um pouco mais distante da praça, o Harry’s Bar, frequentado por Hemingway. Só entrei e saí, não permaneci nesses estabelecimentos, porque sentar-se ali e pedir alguma coisa é, com certeza, pagar um ágio altíssimo por toda essa sua tradição (e localização) ...

            A propósito, em Veneza (assim como em outras cidades) paga-se para usar o WC público. Na cidade dos doges, é mais caro: para tirar água do joelho paga-se 1,50 euro!

            Nosso próximo destino era Florença, com paradas em Pádua e Pisa.

            Em Pádua (ou Padova, em italiano),  há a Basílica de Santo Antônio, que guarda o túmulo do santo, falecido em 1231, local de peregrinação dos católicos de todo o mundo (assim como a Basílica de São Francisco, que visitaríamos dois dias mais tarde, em Assis). Santo Antônio, na realidade, não é de Pádua, mas de Lisboa, onde nasceu e recebeu o nome de Fernando.  Além do túmulo, o turista vê na igreja certas relíquias macabras dele como a sua arcada dentária, língua e cordas vocais, preservadas porque ele era um bom orador...

            Em Pisa, ajudamos a endireitar a Torre, conforme todos os turistas fazem, ao tirar fotos. Visitamos também a Catedral e o Batistério, onde a taxa paga dá direito a uma demonstração de sua excelente acústica.




             O conjunto arquitetônico formado pela catedral (o Duomo), batistério e campanário de Florença (com 380 mil habitantes), capital da Toscana, impressiona mais do que em outras cidades certamente porque não está localizado em uma ampla praça (como em Pisa, por exemplo) que, proporcionando ao visitante um recuo para observá-lo de longe, prepara o seu espírito para o que vai ver. Em Florença, não. Ele dobra uma esquina e, de repente, dá de cara com aquele impressionante conjunto de edifícios, situado próximo aos outros prédios da cidade.

Florença

            Junto á bela catedral de Santa Maria del Fiore está o Batistério. Sua porta lateral é tão bonita – com vários painéis dourados, em alto-relevo, representando cenas bíblicas -- que Michelangelo a chamou de "Porta do Paraíso"...

            No alto do Duomo vimos alguns turistas. Todavia, para se chegar até lá é preciso subir 464 degraus a pé, pois não tem elevador... Só cumprindo promessa!.

A "Porta do Paraíso"
            Em Florença, também conhecemos a Piazza della Signoria, onde o monge Savonarola, que tentou botar ordem no pedaço, acabou  queimado vivo. A praça é um verdadeiro museu a céu aberto; do lado direito, além de uma obra de Donatello há uma série de estátuas gregas originais e outras, envolvendo figuras mitológicas, como a que mostra Hércules lutando com um centauro. Todavia, o Davi que a gente vê ali é uma réplica. A estátua original, esculpida por Michelangelo, está hoje na Galeria dell'Academia. Visitamos esse pequeno museu que possui vários trabalhos dele, inclusive uma “Pietà” e “Os quatro prisioneiros”. Estes aparecem como que saindo de seus blocos de mármore, em correspondência com a visão do artista, que dizia antever na pedra as figuras que iria representar...    Quanto ao Davi, é uma estátua enorme, que até 1873 estava na Piazza della Signoria. Representa o jovem judeu que matou o gigante Golias com sua funda, conforme a Bíblia. Mas se era judeu, como notou nossa guia, porque não está circuncidado? Outra observação interessante a respeito da estátua, é a desproporção dos braços, ou das mãos, em relação ao resto do corpo...  Mas tudo isso tem a sua justificativa estética...(assim como a excessiva juventude de Maria, a da “Pietà” do Vaticano, com o Cristo morto no colo, de 33 anos).

Florença- "Piazza della Signoria"

            Ainda em Florença, visitamos a "Casa di Dante", um imóvel construído em 1911 no local onde o poeta nasceu para ser um museu a ele dedicado.   

            No dia 25 de maio partimos para Roma, com parada em Assis, na Úmbria, para a visita à Basílica de São Francisco. Dentro da basílica inferior, está o túmulo do santo que para mim é o que melhor representa a visão cristã do mundo. Os frades, o tempo todo, pediam silêncio aos turistas visitantes, que não cessavam seu borburinho desrespeitoso. Isso se repetiria várias vezes nas igrejas que visitamos. Essa basílica inferior, que contém afrescos de Cimabue,  foi construída em 1228, apenas dois anos após a morte de S. Francisco. Na  basílica superior há afrescos de Giotto.

Afresco de Giotto em Assis
            Enfim, chegamos a Roma, na região do Lácio, a capital da Itália, com uma população de 2,7 milhões de pessoas (o país todo tem pouco mais de 60 milhões).  Ao chegar, o ônibus nos levou para uma visita panorâmica pela cidade, especialmente pela sua área histórica, a dos fóruns imperiais, Coliseu (esse “estádio sem condição de jogo”, segundo Mané Garrincha...), Arco de Constantino etc

            No dia seguinte, fizemos um passeio por nossa conta pelos pontos turísticos obrigatórios da cidade: a bela Fontana di Trevi (onde Fellini filmou uma cena memorável de “La Dolce Vita”), o Panteão, Campo de' Fiori, Piazza Navona, igrejas de Santo Agostinho, de S. Luís dos Franceses, dentre outras.

Roma- "Fontana di Trevi"
            Reverenciei Júpiter no Panteão, esse antigo templo pagão que virou igreja católica depois. Ali está o túmulo de Rafael, sobre o qual depositei uma coroa de flores imaginária (porque gosto muito de umas “Madonas” dele e da “Escola de Atenas”). Outro túmulo que também está ali é o do rei Victorio Emanuelle II, o rei da unificação italiana, presente na forma de monumentos, nomes de logradouros públicos etc  em toda parte na Itália.  

            Nunca entrei tanto em igrejas como desta vez. As igrejas são boas não só para admirar as obras de arte mas também para descansar um pouco...Aquelas duas citadas acima, por exemplo, têm obras de Caravaggio, que a gente pode admirar sem pagar por isso. É o caso também das belas fontes existentes na praça Navona, duas de Bernini, a de Netuno e a Fontana dei Quattro Fiumi (os quatro rios, um para cada continente, são o Danúbio, o Nilo, o Ganges e o da Prata). É nessa praça  que se situa a embaixada do Brasil, num palácio adquirido no tempo de JK (consta que houve gente que se beneficiou indevidamente na compra desse imóvel...).

            No Campo dei Fiori, onde almoçamos, há uma feira, onde se vende de tudo. Compramos ali alguns souvenires. Nessa praça, há um monumento em homenagem ao filósofo Giordano Bruno, que aí foi queimado na fogueira em 1600. Nas proximidades, fica o palácio Farnese, sede da embaixada da França, onde pedi informações para o porteiro, que descobri ser português...  

            A manhã de 27 de junho, último dia nosso reservado aos passeios, foi dedicada a conhecer o Vaticano, o menor estado do mundo. É, na realidade, um bairro de Roma. Visitamos a Basílica de S.Pedro (que dentre outras preciosidades abriga a “Pietà” de Michelangelo),  e os Museus do Vaticano, onde se destaca a bela Capela Sistina, local em que os cardeais de  todo o mundo se reúnem quando devem escolher um novo papa. Ali, no meio da massa de turistas, arriscamos ficar com torcicolo admirando as pinturas de Michelangelo-- o “Juízo Final” e o teto da capela. Antes, tivemos uma aula muito informativa de História da Arte dada pela nossa guia romana, muito simpática, que se entusiasmava com o que dizia e gesticulava o tempo todo, não fosse ela italiana....

Vaticano- Basílica de S.Pedro
             Viramo-nos bem no metrô (em “la métro” ou em “la metropolitana”), após sairmos do Vaticano.  À tarde, antes de nos encontrarmos com o resto do pessoal para apanharmos o ônibus que nos levaria de volta ao hotel,  fizemos compras e visitamos ainda as igrejas de San Giovanni in Laterano e a de Santa Maria Maggiori. A primeira é a catedral de Roma. Curti bastante ali as estátuas dos doze apóstolos, seis de cada lado da nave central. Não sei quem é o seu autor, com a exceção de duas (S.Tomé e S.Bartolomeu, que são de Pierre Le Gros o Jovem (1666-1719), como informa o meu irmão Roberto).   
                                                                                                                       

"Pietà" de Michelangelo


"S.Tomé" de Pierre Le Gros



"S.Bartolomeu" de Pierre Le Gros